Marçal Tupãi Vive!
Na abertura do I Seminário Sul-mato-grossense de Estudos Indigenistas, em Campo Grande, em Abril de 1980, o grande Darcy Ribeiro prestou uma homenagem ao igualmente grande Marçal de Souza. Três anos depois, Marçal Tupã-i, como também era conhecido, teria sua voz silenciada por uma bala assassina.
A fala de Darcy Ribeiro resume a trajetória do corajoso, lúcido e obstinado líder Guarani-Nãndevá. Hoje, tentam apagar esta historia, pois o esquecimento é a maior arma da classe dominante:
“ Marçal meu companheiro, meu colega intelectual!
Tenho um alto respeito por você, como meu colega. Eu não saúdo muita gente como colega, mas eu saúdo você, Marçal!
Você é um momento de lucidez do seu povo e do povo brasileiro!
Eu quero dizer quem é Marçal:
Marçal permaneceu em silencio, atado e amarrado na sua raiz... Ele, com essa capacidade intelectual, com essa lucidez, continuou atado a esse povo incompreendido, que Mato Grosso do Sul nunca entendeu como poderia entender.
Meus queridos, não há nada mais alto que eu conheça, do que a espiritualidade guarani.
Ele ficou atado a ela, a essa dignidade. Marçal, um ou outro pode estranhar que seja ele armado intelectualmente e que esteja ainda na aldeia. Mas é lá que ele tem o alimento espiritual que só seu povo pode dar!”
Silenciaram a voz desse líder em novembro de 1983 e, agora após mais 22 anos de processo judicial, a justiça pode decretar sua segunda morte, deixando impunes seus assassinos (os acusados foram inocentados em dois julgamentos na justiça de Mato Grosso do Sul, agora o caso foi transferido para a justiça federal e o termino do processo foi prorrogado para 2008).
Se os homens públicos de nossa terra não forem capazes de fazer justiça e condenar seus assassinos, deverá o povo indígena não esquecer essa figura que não teve medo de enfrentar a morte por um ideal. Algum mês antes de morrer declarou:
“ Eu sou uma pessoa marcada para morrer.
Mas por uma causa justa a gente morre!
Tenho uma tristeza em minha vida: o fato de ser bastante idoso.
Eu queria ser um moço bem novo, com todas as forças que tive em minha juventude. Mas gostaria de ter tido então essa consciência, esse amor que tenho em meu coração, agora nessa idade.
Mas levantarão outros que terão o mesmo idealismo e que continuarão o trabalho que hoje nos começamos. Isso eu deixo para voces!”
+25/11/1983 (Texto de Revista Porantim pagina 16 )